lundi 6 août 2012

engate, al berto.

é uma ameaça encontrar-te à esquina das ruas
rente aos grandes cinemas do mar
como se fosses o espelho côncavo de feira
onde posso mergulhar e renegar-me

sim
se olhares o céu lúgubre deste fim de século
se fizeres um movimento de farol com o cigarro
eu - que vou a passar - tudo verei
mas nada será meu
porque não se pode falar com o espectro mudo
do engate - nem o desejo se levantará
para seduzir o corpo daquele que se ausentou

mesmo assim conheço
todas as esquinas da imunda cidade que amo
mesmo assim sofro de insónias - imito o noitibó
o bêbado louco
gesticulo como aquele que já não sou e
outro não serei

mantenho-me de pé e fumo
dentro deste túmulo de incertezas onde
nos encostámos de mãos enlaçadas à espera
que uma qualquer cesura nos agonie e sejamos
obrigados a vender o corpo já usado
aos insuspeitos violadores de poemas


al berto
horto de incêndio
assírio & alvim
1997



1 comments:

pedro manuel magalhães de andrade a dit…

al berto pidwell tavares. nosso querido paneleiro e poeta maior. consolam-me sempre as palavras dele. *

 
 
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